sábado, 23 de maio de 2009

O Ofício do Tipógrafo

Alguns poucos - e bons - devem saber que sou estudante de Produção Editorial da UFRJ. (Não, não somos especialistas da parte de "editorial" dos jornais). Os que se formam em produção editorial, carinhosamente chamados Produtores editoriais, se dividem em dois grandes grupos: os que são apaixonados por livros (gostam de ler, gostam do ambiente de livraria, curtem um design bem elaborado, fazem bibliotecas etc.) e os que são completamente aficcionados por livros (grupo no qual me incluo)

Os aficcionados por livros têm algumas particularidades:
  • compram livros compulsivamente;
  • compram mais de uma vez o mesmo livro - sem perceber;
  • colecionam coisas referentes a livros - fotografias, designs, marcadores de páginas;
  • gostam de sentir o papel, estimar sua gramatura, a tipografia, se aquela opção de grid foi boa ou não;
  • compram livros que versam sobre livros - A Forma do Livro, O Design do Livro, Como Projeter o Livro;
Enfim, os aficcionados por livros dedicam ao livro uma parcela significante da sua vida e de sua paixão (ou raiva - utilize a terminologia que melhor convir). Minha última aquisição de livros -que-tratam-de-livros foi justamente o "A Forma do Livro" (Ateliê Editorial) obra que versa, entre outras coisas, sobre os aspectos gráfico-visuais do livro. Mas, retornando aos meus projetos... obviamente me baseei fortemente em toda a bibliografia que, com o tempo, adquiri para realizá-los, mas foi uma parte simbólica do trabalho que REALMENTE me tirou do sério.

Recentemente, consegui de formas escusas um CD com mais de 900mb de fontes. (Para os pouco informados um arquivo de fonte - desses que você tem instalado como default do seu computador, a Times New Roman, por exemplo, "pesa/mede" 400k, logo, faça as contas). E copiei para meu computador aquele sem-fim e possibilidades tipográficas afim de, eventualmente, em algum dia de muito bom humor, analisar cada uma e fazer um "indice" fontes.

Ok, o que eu não pensei naquele instante foi em quantas fontes eu teria de ver até escolher efetivamente a que eu iria utilizar nos meus projetos. Para "facilitar" um pouco as coisas, resolvi hierarquizá-las de forma a tornar mais viável o trabalho de analisá-las. Logo de cara esbarrei com um problema: quai serão meus critérios? Bom, apelei novamente para a bibliografia e determinei que separaria pelo modelo clássico (romanas, lapidárias, bodonis, egípcias, caligráficas e fantasia) e logo nos 42 segundos iniciais já vi que essa classificação não daria bons frutos, pois tenho lapidares levemente arredondadas, caligráficas belas e borrões-de-gente-que-escreve-de- qualquer-jeito, fontes góticas com e sem serifa e as malditas fontes iconográficas - que na hora da seleção de fontes, só atrapalham nossa vida.

Optei por uma seleção diferenciada, seriam grandes grupos de serifadas, não serifadas, caligráficas, fantasias, iconográficas e numéricas e em cada um deles sub-grupos determinando exatamente o que eu quero. Certo, primeira etapa concluída, aí você acha que é mole, mas não é, depois você tem de abrir cada arquivo de fonte e ver, uma a uma, qual é de que tipo para, só assim, direcioná-la - resumindo - a experiência massacrante das fontes!

Quando minha paciência estava no limite do tolerável parei, tomei um mate e fui dormir, pensando em quão sacal deveria ser o ofício de um tipógrafo: determinar que fonte vai produzir, seu estilo, cunhar, calcular. Depois me dei conta de que é por isso que existem tantas fontes por aí sem família... faltou saco para criar herdeiros!

Um comentário:

Thaís Paiva disse...

tipografia: a FONTE de nosso estresse

ok, foi RUIM de doer, mas alguém tinha que fazer essa piada XD

a gente quase desiste, né??
pena que fontes são coisas tão essenciais e maravilhosas.

faltou linkar o video da font conference... teria tudo a ver XD

quando acabar com as fontes, me manda o cd... eu vou certamente criar uma forma de catalogar as fontes que nao vai fazer sentido algum e eu nunca vou achar mais nada XD

te amo =]